A cada ano, todo terceiro sábado do mês de setembro, acontece uma celebração bem especial e simbólica na Coreia: o Dia das Haenyeo. Mas quem são as Haenyeo? Ao separarmos as sílabas de “해녀” [renió], entendemos que hae – 해 [re] vem do hanja 海, que significa “mar”, e nyeo – 녀 [nió] vem do hanja 女, significando “mulher”. Literalmente, significa “mulheres do mar”, ou seja, elas são as mulheres mergulhadoras da famosa ilha de Jeju, na Coreia do Sul. A história dessa profissão feminina tem uma grande importância para o seu país, fazendo com que essas sereias coreanas da vida real tornassem um Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Sem o uso de equipamento mecânico, apenas vestindo roupas de mergulho, nadadeiras e óculos de mergulho, e enfrentando todas as adversidades do mar, as Haenyeo se dedicam à pesca de frutos do mar, como abalones, polvos, algas, ouriços e outras espécies, para vendê-los nos mercados locais. Dessa forma, elas garantem o sustento de suas famílias, alimentando e educando seus filhos e netos. Não se trata de pegar um ou outro fruto do mar, mas sim de quilos e mais quilos.
A origem das Haenyeo
Essa tradição feminina existe desde o século XVII. Enquanto os homens partiam para o mar para pescar ou servir em navios de guerra, muitos deles nunca mais retornavam. Por essa razão, esse trabalho tornou-se exclusivamente feminino. Transmitida de geração em geração, as Haenyeo começam a ser treinadas para mergulhar a partir dos 11 anos. As sereias coreanas da vida real conseguem permanecer até três minutos debaixo d’água. Elas têm uma carga horária de 7 horas por dia mergulhando, enfrentando todo tipo de perigo no mar, além dos riscos de hipotermia, enjoo do mergulho e zumbido.
Porém, atualmente, esse trabalho está em risco de extinção, já que a maioria das mergulhadoras tem mais de 60 anos e poucas jovens da ilha de Jeju têm interesse nessa profissão, preferindo uma vida mais confortável nas cidades grandes.
Podendo ser consideradas como as “mães de Jeju”, as Haenyeo têm uma organização própria baseada em grupos de idade e níveis de habilidade, que define as regras de trabalho, a divisão dos lucros e a assistência mútua. Na Era Joseon, elas tinham que entregar todo o lucro das pescas para os reis, como um tributo; no entanto, durante o período de ocupação japonesa, seu trabalho ficou mais lucrativo, já que os japoneses permitiram que elas ficassem com seus lucros. Até os anos 1960, suas pescas representavam 60% do lucro de Jeju.
Existem três grupos de Haenyeo: aquelas que mergulham entre 15 e 20 metros de profundidade, um segundo grupo que mergulha a uma profundidade de 8 a 10 metros e, por fim, aquelas que mergulham entre 5 a 7 metros de profundidade. Uma curiosidade: quanto mais profundo for o mergulho, mais caros podem ficar os frutos do mar.
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“Será que elas não podem usar pelo menos um cilindro de oxigênio?”
Não! Com o objetivo de proteger os recursos pesqueiros e evitar a pesca excessiva, as Haenyeo são proibidas de usar cilindro de oxigênio.
Por ficarem tanto tempo submersas, as Haenyeo possuem uma linguagem especial chamada sumbisori – 숨비소리 [sumbisori], que consiste em sons emitidos ao expirar o ar após o mergulho. É um som bem estridente e agudo, como um apito. O sumbisori pode também expressar o alívio, a alegria e a comunicação entre as Haenyeo.
“E os homens, eles não mergulham?”
A versão masculina das 해녀 é chamada de 머구리 [móguri].
Em uma Coreia patriarcal, baseada no confucionismo, as Haenyeo deixaram sua marca, mostrando que as mulheres podem ser as chefes dos lares. Diz-se que a classe é determinada desde o nascimento e não é um produto do esforço. Fortes e economicamente produtivas, assim são as Haenyeo, e que venham muitos anos de celebração para essas super mulheres coreanas.
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Fonte: Imagem da capa copyright Luciano Candisani